UM CAFÉ PARA XANTIPA
Os homens livres nascidos em Atenas podiam exercer a plenitude da cidadania. Na assembléia (eklesia) decidiam os destinos da pólis, espraiados na praça pública (agora) praticavam a retórica, julgavam, absolviam, condenavam, anistiavam, enfim: praticavam a justiça e a sabedoria. Para os gregos, a justiça e a sabedoria é coisa somente de homens!
O universo masculino grego não se restringia, apenas, à retórica dos discursos, ao livre acesso ao espaço público e as votações nas assembléias. Infinitos eram os seus espaços, seus momentos de prazer: de boa mesa, de boa cama, de belos corpos, da fartura, do sexo entre os iguais. O espaço público na pólis é o espaço dos homens.
Entre os iguais está Sócrates, o filósofo, o mais sábio dos homens, o líder entre os jovens, o destemido crítico. Sócrates como se sabe, não tinha um belo corpo, mas entre os seus escolhidos estava Alcebíades, belo, extravagante, disputado, uma estátua viva zombando da beleza de Zeus. Sócrates e Alcebíades e os outros homens livres participavam do espaço público, dos prazeres do diálogo, da boa mesa e da boa cama.
O giniceu, o aposento das mulheres, é o espaço privado. Lá estava Xantipa, mulher de Sócrates. O historiador Xenofonte, em breve relato, descreveu-a como o estereotipo da ranzinza, da indócil, da megera de temperamento insuportável. No giniceu estão confinadas as mulheres de Atenas que vivem para os seus maridos e que não podem participar das assembléias, dos banquetes e dos jogos olímpicos.
Aos homens o espaço interno do oikos, a publicidade da vida; às mulheres o espaço interno, a privacidade da vida, a reclusão.
PENSARE
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