Wednesday, June 25, 2008

maio de 1968 - boletim do PENSARE

www.pensareedu.com
pensare@pensareedu.com
EDIÇÃO ESPECIAL SOBRE OS 40 ANOS DO MOVIMENTO ESTUDANTIL DE 1968.
MOVIMENTO ESTUDANTIL DE 1968 – os jovens aceleram a história.
Há exatamente 40 anos, na segunda metade o século XX, a história da humanidade registra intensas transformações no campo da política, da cultura e do comportamento. As Barricadas do Desejo, como se chamou a rebelião estudantil teve início na Universidade de Naterre, na França, e repercutiu no mundo inteiro. São bastante diferentes as motivações que levaram o descontentamento dos jovens no mundo inteiro à realização de passeatas, mas havia uma aspiração comum: a de que uma revolução poderia ser feita para forjar e fazer emergir um novo homem e uma nova sociedade. Em alguns lugares pedia-se a morte do capitalismo para dar lugar ao socialismo. Em outros, lutava-se contra o socialismo autoritário e burocrata e buscava-se uma nova sociedade sem opressão. Porém, foi a França o grande e tradicional palco revolucionário. Não se trata de um paradoxo, mas de lembrar das comunas de Paris inclusive.
O ano de 1968 é sem dúvida alguma, um marco importante nas transformações dos costumes que caracterizam o século XX. Os acontecimentos que marcaram o mês de maio de 1968 fizeram a síntese de uma década em que os corações e as mentes de uma geração de jovens estavam plenos de um desejo: mudar a face do mundo. Havia um consenso de que as coisas precisavam ser mudadas e que muitas utopias eram realizáveis nas artes, nas escolas, nos sindicatos, nas universidades e fazer emergir o mundo novo, mais justo e fraterno.

iderados por Daniel Cohn-Bendit "Movimento 22 de Março" é o precursor da revolta estudantil que paralisou a França

Gui Debord (1931-1994), filósofo francês em sua obra Sociedade do Espetáculo, transita da crítica da arte à análise política, textos revelam pensamento que, ao destacar o caráter alienador do capitalismo, defendia, fundamentalmente, o direito do ser humano a inventar sua própria vida. Lançado na França em 1967, A Sociedade do Espetáculo tornou-se inicialmente livro de culto da ala mais extremista do Maio de 68, em Paris; hoje é um clássico em muitos países. Em um prefácio de 1982, o autor sustentava com orgulho que o seu livro não necessitava de nenhuma correção.
Marcuse discursando para os estudantes
Herbert Marcuse (1898-1979) filósofo alemão radicado nos Estados Unidos, participou intensamente dos movimentos libertários da década de 60 e 70 como os movimentos mulheres, os movimentos pelos direitos civis e os movimentos estudantis. Entre as suas obras, as que mais tiveram influência teórica para a rebeldia estudantil foram: Eros e Civilização, O homem unidimensional, Materialismo Histórico e dialética. que apregoam a idéia de “libertação da imaginação” como o potencial para a realização criadora do individuo. O filósofo defendia a idéia de uma sociedade não-repressiva onde a imaginação e ação transformadora estariam reconciliadas.






O filósofo Michel Onfray, estudioso do movimento estudantil de maio de 1968, afirmou em entrevista à Folha de São Paulo, no dia 12 de dezembro de 1997: “Em 1968 ocorreu um rompimento filosófico, uma fratura metafísica em que a autoridade foi julgada e os homens puderam falar livremente, desafiando um meio filosófico reacionário e conservador, que considerava a Europa liberal e cristã a única via”



Filósofo francês Jean-Paul Sartre (à esq.) durante coletiva de imprensa ao lado de Daniel Cohn-Bendit, em Stuttgart (Alemanha)Jean-Paul Sartre ( 1905-1980), filósofo francês, esteve na linha de frente dos mais importantes acontecimentos políticos do século 20. Defendeu a libertação da Argélia, então colônia francesa. Junto com seus alunos, empilhou os paralelepípedos para construir as “barricadas do desejo”. Pensador do existencialismo, filosofia que proclama a total liberdade do ser humano.




www.pensareedu.com

pensare@pensareedu.com



FLAGRANTES NAS RUAS DE PARIS

Meus desejos são a realidade (Nanterre)

Dormindo se trabalha melhor: formem comitês de sonhos
(Sorbonne)
O sonho é realidade Exagerar já é um começo de invenção
(inscrição na Faculdade de Letras de Paris, maio de 1968)
Há um método em sua loucura
(“Hamlet” – Nanterre)
Sejam realistas: peçam o impossível
(Faculdade de Letras, Paris)

A revolução é inacreditável porque é verdadeira
(Faculdade de Letras, Paris)

Temos uma esquerda pré-histórica
(Faculdade de Ciências Políticas, Paris)
Chega de tomar o elevador: tome o poder
(107, Avenue de Choisy, Paris)
Abaixo o realismo socialista: viva o surrealismo!
(Liceu Condorcet, Paris)
Sou marxista da tendência Groucho
(Nanterre)
A poesia esta na rua (Rue Rotrou)

A liberdade alheia amplia minha liberdade ao infinito
(Bakunin) (Liceu Condorcet, Paris)

Um pensamento que pára é um pensamento que apodrece
(Sorbonne)

. Estamos tranqüilos. 2 mais 2 já não são 4
(Faculdade de Letras, Paris)
Somente a verdade é revolucionária
(Nanterre)

França para os franceses, lema facista
(Faculdade de Ciências Políticas, Paris)

A revolução não é um espetáculo para anglicistas
(Nanterre)
Inventem novas perversões sexuais
[não agüento mais!]
(Nanterre)

Proibido proibir
(Sorbonne)

Temos que explorar sistematicamente a sorte
(Faculdade de Letras, Paris)
A inteligência caminha mais que o coração
Mas não vai tão longe
(provérbio chinês – Sorbonne)
O direito de viver não se mendiga, se toma
(Nanterre)
Decreto o estado de felicidade permanente
(Faculdade de Ciências Políticas, Paris)
A imaginação toma o poder
(Faculdade de Ciências Políticas, Paris)
Sejam breves e cruéis, antropófagos!
(Nanterre)

Os limites impostos ao prazer exitam o prazer de viver sem limites
(Nanterre)
Cache-toi, objet
(Sorbonne)

Quanto mais faço amor mais vontade tenho de fazer a revolução.
Quanto mais faço a revolução mais vontade tenho de fazer amor.
(Sorbonne)

Conversem com seus vizinhos
(Faculdade de Letras, Paris)

Vive la cité unie-vers-cithère
(Nanterre)

O álcool mata. Tome LSD
(Nanterre)

Amai-vos uns sobre os outros
(Faculdade de Letras, Paris)

Deus é um escândalo. Um escândalo que dá lucros.
(Baudelaire) (Liceu Condorcet, Paris)

A ortografia é uma mandarina
(Sorbonne)

Desabotoe-se o cérebro tantas vezes quanto a braguilha
(Teatro Odéon, Paris)

Sexo: está bem, disse Mao, mas não em demasia
(Faculdade de Letras, Paris)

LEGADO DE 68 PARA O LÍDER COHN-BENDIT É um legado positivo. Em 1965, uma mulher casada tinha que pedir permissão ao marido para abrir uma conta bancária. Hoje, é possível fazer isso sem permissão. Hoje em dia, mesmo os católicos inveterados defendem que a base da democracia é a autonomia e a igualdade entre homens e mulheres. Hoje você tem uma aceitação da autonomia das crianças, uma aceitação da homossexualidade, apesar da igreja ainda ter seus problemas. Uma aceitação da diversidade dos indivíduos. Uma idéia de direitos humanos e democracia.



´40 anos depois é hora de se perguntar: o que restou de maio?Os jovens revolucionários tiveram alguma vitória? Claro que tiveram. A revolução sexual, por exemplo, veio para ficar. Os direitos das mulheres, afirmados com rigor nas barricadas parisienses, desde então têm se ampliado de forma contínua e irresistível. Em vários lugares do mundo o ensino se tornou mais democrático. Os jovens foram reconhecidos como força política e social.
Entretanto, a essência do movimento de 1968, que mobilizou milhões de pessoas, foi aos poucos se esvaziando até perder sua força: a sociedade de consumo, quer dizer o capitalismo acabou por se impor até muito mais força do que antes”Luiz Pilla Vares, ZH, 8/05/2008 p. 6 Segundo Caderno.



“Levei anos para aprender, e só fui aprender nos anos da ditadura, que ter medo não é apenas tremer de medo ou baixar a cabeça – obediente e resignado – , ou dizer “não”. Há outro medo, muito mais profundo, que disfarça e não mostra o medo que tem, exatamente porque teme tanto que tem medo de aparentar medo. É o medo que engendra a omissão, o não importar-se com que ocorra, ou quando assumir-se em nada. É um medo-fuga. E é talvez o único medo essencialmente perigoso, porque estando próximo à covardia, nos torna cínicos e, como tal nos destroça.” Flavio Tavares em Memórias do Esquecimento.


O Brasil de 1968 foi marcado por protestos estudantis e de outros setores sociais contra a ditadura militar (1964-1985). A passeata dos 100 mil, em junho, no Rio de Janeiro, foi um acontecimento emblemático, dela compareceram artistas, intelectuais e grande número de mães de estudantes. Protestando pela morte do estudante Edson Luiz.
Passeata dos cem mil na CinelândiaO regime militar recrudesceu o seu autoritarismo com a promulgação do Ato Institucional n 5, em dezembro. A rebeldia dos jovens é evidenciada nas manifestações artísticas: no filme Terra em Transe de Glauber Rocha, na peça Roda Viva de Chico Buarque, na música Disparada de Geraldo Vandré entre outras.


“O que mais importava era a revolução na maneira de conviver de quem militava em 1968. É essa utopia que eu acho que vingou. Foi a única e verdadeira revolução do século 20, ou a única de sucesso”

Contardo Calligaris, psicanalista. Folha de São Paulo, Cotidiano. 21.05.2008


Acho que o caracteriza a geração de hoje é não querer o confronto ou a ruptura, até porque isso já foi feito pelos pais, ela não tá interessada nisso. Não é por desprezo, é simplesmente porque não tá. É um pouco como a política: dizem "ah, não querem saber de política". Mas que graça tem a política para um menino desses? que interesse, que fascínio pode ter a atividade político-partidária hoje no Brasil para esse menino? então ele vira as costas, não se dá nem ao trabalho de contestar, diz simplesmente "não me interessa, não quero saber". Então essa coisa do confronto que era muito daquele tempo, tempo de enfrentamento, contestação, isso hoje não passa pela cabeça dos meninos. Eles estão na deles, fazendo ali o que eles querem fazer e se lixando muito pouco para o que tem em volta, o que está acima. Pode-se até criticar esse isolacionismo, esse individualismo que leva a ficar 12 horas na frente de um computador, mas de qualquer maneira eles têm lá suas razões, que a gente tem de tentar entender, porque quem tem de entender os filhos são os pais.
Zuenir Ventura. Autor de 1968, o ano que não acabou e
1968: o que fizemos de nós,

Nossa equipe
IVONE BENGOCHEA
Professora de Filosofia no ensino médio e universitário Porto Alegre RS. Ensino de Filosofia, Ciência Política, Fundadora do GERF 1993.



Pedagoga
Mestre E Doutoranda Em Educação Popular (UFPB).
MARIA DE FÁTIMAÁTIMAVIEIRA

WALTER MORALLES ARAGÃO
Professor de filosofia, Mestre em Planejamento urbano, projetos sobre a questão da terra, reforma agrária..

RONIE A. TELLES SILVEIRA
Professor de Filosofia na UNISCdoutor - PUC-RS


ETHON SECUNDINO AMILCAR DA FONSECA
Professor de Filosofia no Ensino Médio
Coordenador do PENSARE

RITA DOS SANTOS TODESCHINI
Professora de Filosofia, coordenadora de eventos da CGTEE. Filosofia Latino Americana, Responsabilidade Social Fundadora do GERF 1993.


MARIA DAS NEVES TEIXEIRA CESAR
Professora de história no ensino médio, projetos de artesanato e feiras solidárias.

DORALINA DA SILVA
Professora de história, Especialista em política de integração pela Universidade Nacional de La Plata, Argentina.


DILECTA TODESCHINI
Pedagoga, educadora popular, conselheira do orçamento participativo, pesquisadora da AEC, Associação dos Educadores Católicos.

JOSÉ ANTENOR DE AZEVEDO
Especialista em Direito Político, Direitos Humanos ênfase ao Direito de Aprender.

www.pensareedu.com

pensare@pensareedu.com

Fone: (51) 3228 1417
(51) 3331 5569 ou (51) 9118 2603 Porto Alegre - RS
Brasil

O ENSINO DE FILOSOFIA OBRIGATÓRIO - SANÇÃO PRESIDENCIAL